segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mangá

Com relativamente poucos trabalhos publicados no Brasil, o Studio Seasons já construiu sua própria tradição de excelência técnica dentro do cenário brasileiro de mangá. Pudemos ver isso em obras inconclusas como Oiran e Sete Dias em Alesh, e mais recentemente na história para meninas Zucker, publicada em micro-capítulos de poucas páginas na revista Neo Tokyo da Editora Escala. Agora, elas estão de volta com uma nova série, Mitsar. A série se passa no mesmo cenário de fantasia tecnológica pseudo-islâmica videogamizada que serviu como pano de fundo para Alesh, e novamente envolve uma corrida a ser vencida (há pouco a se falar porque – e isso é uma das poucas ressalvas críticas que já fiz a respeito uma obra do Seasons – a primeira edição do Alesh original jamais deixou muito claro o tom da história e o papel da corrida nesse tom, se limitando a apresentar personagens, enquanto Oiran já disse ao que veio em um primeiro momento). Em todo caso acredito que essa pequena história seja uma forma de deixar mais clara a abordagem do universo para seus leitores para quando o Alesh definitivo retornar. De resto, tomara que dessa vez as moças do Seasons tenham mais espaço para trabalhar na revista. Três páginas, como em Zucker, é muito pouco.



O Studio Seasons é um sinônimo de excelência técnica aqui no Brasil – e sinceramente, são muito melhores tecnicamente do que muita autora japonesa incensada pelos fãs, no mesmo segmento. Agora elas anunciaram o lançamento, na revista Neo Tokyo, de uma série ambientada no sul do Brasil, Zucker, tendo como pano de fundo a colonização alemã no local. A história gira em torno de uma menina, Dora Zuckermann, que herda a doceria que dá nome a história. Palmas para o Seasons por olhar para o que o nosso país tem a oferecer em termos de histórias – e boa sorte para elas, porque vão ter que bater de frente com muito fã hardcore cabeça dura. Pena que só serão três páginas por edição. Texto e arte ficarão a cargo de Montserrat e Simone Beatriz respectivamente.

Okay, admito, isso é muita pretensão. :)
Vamos direto ao ponto. Esse blog, o Maximum Cosmo, surgiu por acaso – ou melhor, um trabalho de faculdade. A matéria jornalismo digital do meu curso de comunicação pedia por um blog e... bom, preferi fazer um sobre algo que eu conhecesse. E estou aqui, escrevendo.
Tenho sido redator há mais de dois anos para a revista Neo Tokyo, da Editora Escala. Por bastante tempo, veiculei uma coluna semanal para o website Anime Pro – e Deus, como a velha coluna me parece uma lembrança distante hoje – talvez por isso eu tenha preferido não ressucitar o nome da antiga coluna ao batizar esse blog. Contou pontos para isso o fato de que, por algum motivo, eu achei que deveria fazer algum tipo de menção aos Cavaleiros do Zodíaco ao batizar esse meu pequeno canto na net. Não que eu fosse o maior fã deles. Quando eles foram exibidos pela primeira vez, eu gostava. Mas isso foi há muito tempo. Rever o material hoje dá uma certa medida de quanto o envelhecimento da série foi problemático. Entretanto, eu sou o primeiro a admitir o quanto tanto conceito quanto personagens são icônicos, e que a sua natureza de fenômeno de longa duração não é injusta. Sem Cavaleiros não estaríamos aqui.
Deixando mais claro: ela abriu a porteira – assim como Capitão Harlock (sob o nome de Albator) o fez na França, como Robotech o fez nos Estados Unidos e no Chile, como... bom, em todo lugar no ocidente em que hajam animes e mangás nos dias de hoje, houve um material que chutou o pau da barraca e marcou o início da invasão. Cavaleiros não foi, nem de longe, o primeiro anime a pousar por aqui; mas foi talvez o mais importante. E achei fundamental lembrar disso.
O que me custou um pouco de tempo foi escolher um nome decente. No meu entender, esse blog se chamaria apenas Cosmo. O Cosmo é a energia fundamental que está por trás do poder dos cavaleiros, e equivale ao Ki de Dragonball, o Chakra de Naruto, a Energia Espiritual em Yu Yu Hakusho. Infelizmente, um engraçadinho pegou o nome Cosmo e o deixou mofando. Okay, não é o fim do mundo. Me lembrei de referências sobre "Levar o Cosmo ao Máximo" – e daí a Maximum Cosmo foi um pulo. Que seja.
Um pouco sobre o clip que postei – e que de certa forma antecipou o que aconteceria em nossos dias: o fato de que com o tempo, o mangá e o anime passariam para o mainstream da cultura pop. Claro que o que aconteceu aqui foi um acidente. Nos anos setenta, com o sucesso da série Thunderbirds, o mesmo Go Nagai que deu ao mundo o Pirata do Espaço (eu diria "deu a nós, porque só no Brasil esse desenho emplacou – lá fora, ele é melhor conhecido por marcos como Devilman, Mazinger Z e o Getter Robot cuja continuação em mangá ilustra nossa página, aqui ao lado) foi convocado para um projeto ambicioso: tentar fazer um equivalente japonês para o supermaronation da dupla Gerry e Sylvia Anderson. Essa série seria chamada de Bomber X, e quebrou a cara em sua terra pátria. Mas na Inglaterra, a terra das produções de aventura e ficção com bonecos, a história foi bem outra.
Devidamente rebatizada como Star Fleet, a série conseguiu derrubar, em termos de audiência, a produção que marcou o retorno dos Anderson à ribalta televisiva, Terrahawks (que justiça seja feita, era apenas uma sombra comparada às antigas produções da dupla), e se os cenários e bonecos já não tivessem sido destruídos à aquela altura do campeonato, a série teria uma segunda temporada encomendada pelos britânicos.
Agora reparem em quem está encabeçando, nesse videoclipe, o tema da série nas terras da rainha: Brian May, do Queen, e Eddie Van Halen, do... Van Halen (dã). Acho que poucas séries de anime na história podem se orgulhar de ter seu tema registrado por nomes de tamanho gabarito. Na verdade, o filho de May era fã da série e acabou contaminando seu pai. O resto foi consequência.
Repare: um garoto comum, que por acaso teve um pai famoso que imortalizou o tema de uma série. Não um fã hardcore. Não um otaku. Um garoto comum.
Um amigo meu em San Francisco, ontem, me contou algo curioso: em uma das maiores redes de livrarias, haviam dezesseis estandes só com mangás. Dezesseis. Os comic books também aumentaram muito a sua penetração nas grandes livrarias, longe do mercado direto, mas eles só tinham cinco estandes. Repare que boa parte deles fazem sua base de leitores longe das grandes livrarias, nas comic stores (gibiterias) – que, a bem da verdade, são redutos de nerds enciclopédicos cuja presença é evitada pelo cidadão comum a qualquer custo. Ou seja, o mangá chegou à massa nos Estados Unidos (levando em conta que os americanos lêem, em números brutos, quase tanto quanto os japoneses; quando a pontuação leva em conta a proporção de leitores para o grosso da população, os americanos perdem com uma razoável distância). Uma revista como a Shonen Jump americana já chegou a um pico de 540.000 exemplares vendidos de uma edição, com um share que já chegou a 700.000 leitores regulares por mês – hoje, diz a viz que a marca dos sete dígitos em share já foi alcançada, mas vale a pena um mínimo de desconfiômetro ligado quanto a um dado desses. No mercado direto – no momento em que escrevo – o maior hit das gibiterias, a série Secret Invasion da Marvel, vendeu meros 175.459 exemplares – e levando em conta esse mercado, ela tem todo motivo para estourar o champanhe, o que não deixa de ser trágico.
Dragon Ball Z é uma das grandes apostas da Fox, mesmo que as adaptações já anunciadas (Chi chi, patricinha de colégio americano?) façam que o filme prometa ser uma bomba. Filmes como Voltron e Robotech estão em produção nesse exato momento. Neon Genesis Evangelion será filmado como uma trilogia com efeitos especiais da Weta Workshop de Steve Jackson, o mesmo de O Senhor dos Anéis.
E por incrível que pareça: mangá não é moda. Que moda é essa que já dura há praticamente mais de duas décadas na Europa e praticamente dez anos nos Estados Unidos?
Eu acredito sinceramente que mangá e anime já deixaram de ser algo japonês e se tornaram um movimento cultural, da mesma forma que o rock, tão americano em suas origens, o fez. Um movimento cultural movido pelo traço e propulsionado pela internet. E que promete ter um ciclo de vida longo. Seu próximo movimento é a antropofagização local – e ela já está acontecendo. Artistas ao redor do mundo se inspiraram nele para encontrar sua própria voz, mais do que copiar o que se faz na nação matriz da estética. Um mangá como Unearthly, de Joshua Dysart e Elmer Dalmaso, é profundamente americano, e ainda assim muito mangá em sua forma estética. O ministério do exterior japonês concedeu um prêmio de excelência ao ótimo Hollow Fields da australiana Madeleine Rosca. Na França, a Humanoids chegou a lançar três antologias nos moldes japoneses, a linha Shogun. E no Brasil... bom, tivemos a experiência bem-sucedida de Holy Avenger. Que infelizmente careceu de continuidade. Sem falar de que o todo-poderoso Maurício de Souza entrou no terreno de mangás, com resultados qualitativos questionáveis, mas a força bruta dos seus números é inquestionável – como confirma uma pequena matéria na Anime Pro.
Tudo isso me leva a crer que os próximos anos, para os fãs de animes e de mangás, reservam surpresas fabulosas quanto à expansão da estética no ocidente.
Talvez tenha sido uma ótima idéia abrir esse blog. Haverá muito o que falar por aqui daqui para a frente, pelo visto. ;)

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